Publicado no jornal O Eco (Angra dos Reis, Ilha Grande), pág
24, 01.05.2014
A viola tem suas raízes mais próximas
na península ibérica, tendo se fixado em Portugal, ainda no século XV, como
instrumento das camadas mais populares. Neste país, a viola sofreu grande
diversificação estrutural. Segundo Ernesto Veiga de Oliveira, em seu livro
“Instrumentos Populares Portugueses” (1966), são distintos cinco tipos de
violas nas terras portuguesas continentais: amarantina, toeira, campaniça,
braguesa e beiroa, além de dois tipos nas ilhas dos Açores: micaelense e
terceirense.
Violas portuguesas foram trazidas ao Brasil
desde os primórdios da colonização, com relatos deste instrumento na então
colônia ainda no século XVI. Sendo um instrumento popular e muito difundido em
Portugal, naturalmente, ao longo do período de colonização do Brasil, houve
certo fluxo de violas para nossas terras, provenientes de distintas regiões da
metrópole.
Hoje a viola é um dos instrumentos
musicais tradicionais mais amplamente distribuídos pelo Brasil, especialmente
longe dos centros urbanos. Aliada a sua ampla distribuição, está uma grande
diversidade estrutural e técnica, que, pelo menos parcialmente, é derivada da
diversidade das violas portuguesas que vieram para o Brasil.
Alceu Maynard Araújo foi um grande
estudioso da cultura popular brasileira e muito se aprofundou na cultura relacionada
à viola no Estado de São Paulo e arredores. Seus estudos foram em grande parte
compilados no livro Folclore Nacional, com primeira edição em 1964. Este
autor diz que conhecia quatro tipos de violas no Brasil: a paulista, a
cuiabana, a do nordeste e a angrense. Este último tipo ocorria em áreas
litorâneas do sul do Estado do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. As violas
angrenses são muito distintas de outros tipos de violas brasileiras por possuir
um pequeno suporte junto à caixa de ressonância, chamado de ‘periquita’ ou
‘benjamim’, que sustenta uma tarraxa usada para colocar uma corda mais curta.
Esta corda curta adicional, a que no Brasil muitas vezes dá-se o nome de
‘cantadeira’, existe nas violas beiroas de Portugal, sendo muito provável que
as violas angrenses tenham se derivado de violas portuguesas deste tipo.
Desafortunadamente, a viola angrense
pode ser considerada como um instrumento extinto em Angra dos Reis ou mesmo no
Estado do Rio de Janeiro, como previu aquele eminente folclorista que a
descreveu, quando relatou o seguinte: “em novembro de 1947, quando estivemos em
Angra dos Reis, constatamos que, com o falecimento do antigo fabricante das
afamadas violas angrenses, não há mais quem as fabrique naquela cidade
sul-fluminense”. Hoje em dia, o nome ‘viola angrense’ caiu em
desuso, contudo, este tipo de viola é ainda hoje muito encontrado no litoral de
São Paulo e Paraná, ligado à tradição do fandango, sendo chamada simplesmente
de viola ou viola de fandango. Cabe aqui lembrar que o fandango paulista e
paranaense faz parte da mesma tradição que no sul do Estado do Rio de Janeiro é
conhecida como ciranda.
A Ciranda fluminense(Paraty e Angra, hoje só em Paraty), é da Cultura caiçara, mas não é nada no ritmo e bailados, com o fandango.
ResponderExcluir