sábado, 28 de novembro de 2015

Viola angrense: um instrumento musical extinto em Angra dos Reis

Publicado no jornal O Eco (Angra dos Reis, Ilha Grande), pág 24, 01.05.2014

A viola tem suas raízes mais próximas na península ibérica, tendo se fixado em Portugal, ainda no século XV, como instrumento das camadas mais populares. Neste país, a viola sofreu grande diversificação estrutural. Segundo Ernesto Veiga de Oliveira, em seu livro “Instrumentos Populares Portugueses” (1966), são distintos cinco tipos de violas nas terras portuguesas continentais: amarantina, toeira, campaniça, braguesa e beiroa, além de dois tipos nas ilhas dos Açores: micaelense e terceirense. 
Violas portuguesas foram trazidas ao Brasil desde os primórdios da colonização, com relatos deste instrumento na então colônia ainda no século XVI. Sendo um instrumento popular e muito difundido em Portugal, naturalmente, ao longo do período de colonização do Brasil, houve certo fluxo de violas para nossas terras, provenientes de distintas regiões da metrópole.
Hoje a viola é um dos instrumentos musicais tradicionais mais amplamente distribuídos pelo Brasil, especialmente longe dos centros urbanos. Aliada a sua ampla distribuição, está uma grande diversidade estrutural e técnica, que, pelo menos parcialmente, é derivada da diversidade das violas portuguesas que vieram para o Brasil.
Alceu Maynard Araújo foi um grande estudioso da cultura popular brasileira e muito se aprofundou na cultura relacionada à viola no Estado de São Paulo e arredores. Seus estudos foram em grande parte compilados no livro Folclore Nacional, com primeira edição em 1964.  Este autor diz que conhecia quatro tipos de violas no Brasil: a paulista, a cuiabana, a do nordeste e a angrense. Este último tipo ocorria em áreas litorâneas do sul do Estado do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. As violas angrenses são muito distintas de outros tipos de violas brasileiras por possuir um pequeno suporte junto à caixa de ressonância, chamado de ‘periquita’ ou ‘benjamim’, que sustenta uma tarraxa usada para colocar uma corda mais curta. Esta corda curta adicional, a que no Brasil muitas vezes dá-se o nome de ‘cantadeira’, existe nas violas beiroas de Portugal, sendo muito provável que as violas angrenses tenham se derivado de violas portuguesas deste tipo. 
Desafortunadamente, a viola angrense pode ser considerada como um instrumento extinto em Angra dos Reis ou mesmo no Estado do Rio de Janeiro, como previu aquele eminente folclorista que a descreveu, quando relatou o seguinte: “em novembro de 1947, quando estivemos em Angra dos Reis, constatamos que, com o falecimento do antigo fabricante das afamadas violas angrenses, não há mais quem as fabrique naquela cidade sul-fluminense”. Hoje em dia, o nome ‘viola angrense’ caiu em desuso, contudo, este tipo de viola é ainda hoje muito encontrado no litoral de São Paulo e Paraná, ligado à tradição do fandango, sendo chamada simplesmente de viola ou viola de fandango. Cabe aqui lembrar que o fandango paulista e paranaense faz parte da mesma tradição que no sul do Estado do Rio de Janeiro é conhecida como ciranda.
Assim, perdeu Angra dos Reis este instrumento musical tão peculiar que poderia ser mais um símbolo cultural do município. Mas, contudo, ainda é possível resgatar a viola angrense, assim como a tradição musical relacionada a ela, especialmente a ciranda, que também está em processo de desaparecimento na região. Isto poderia ser alcançado, por exemplo, com a criação de grupos de músicas e danças folclóricas caiçaras, dirigidos tanto a adultos como a crianças. Além de uma visão de que o imenso potencial turístico da região pode ser ainda aumentado e aperfeiçoado se forem incluídos roteiros culturais de turismo enfatizando a riquíssima cultura caiçara do sul fluminense.



Um comentário:

  1. A Ciranda fluminense(Paraty e Angra, hoje só em Paraty), é da Cultura caiçara, mas não é nada no ritmo e bailados, com o fandango.

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